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sexta-feira, 2 de março de 2012

Borderline


Dentro do caráter patológico, as estatísticas dizem que mais de 400 milhões de pessoas no mundo têm algum distúrbio psiquiátrico. Em São Paulo, essas pessoas representam mais de 46% da população.
Fato: eu virei uma estatística.
Aos 27 anos, eu me tornei 50mg de Neural e terapias semanais. Ao menos é assim que sou vista pelas pessoas "comuns".
Mas essas pessoas "comuns" não sabem que também se encaixam em algum pedaço desses 46% de Paulistas e, assim, são vistas como "normais", seguindo sua vida sem tarjas pretas. Cidadãos pacatos, trabalhadores, que levam a família para o parque do Ibirapuera aos domingos.
A grande questão é: até que ponto estar consciente de uma doença psiquiátrica é chegar mais perto da cura?
Até os 18 anos, eu fazia parte - ou pensava que sim - dos 54% da população com cérebro saudável. Com meus momentos de fraqueza, tristeza, crises de raiva... Mas todos superáveis porque, afinal de contas, qualquer ser humano normal tem seus altos e baixos. Quando passei de 54% para 46%, tudo mudou. Todos os problemas e dificuldades da minha vida passaram a ser resultado de depressão, transtorno bipolar, borderline, transtorno obsessivo compulsivo e/ou ansiedade. Distúrbios psiquiátricos.
De repente nada mais era ocorrência do cotidiano e tudo era justificado como consequência de uma doença. E se é uma doença, nada posso fazer. Está além do meu possível.
É confortável a vida do paciente emocional. Confortável e absolutamente desesperadora!
A consciência da doença te leva a aceitar situações que seriam possíveis - e fáceis - de se resolver se alguém usando um jaleco branco atrás de uma mesa não tivesse carimbado um número do CID no meio da sua testa.
Parabéns, agora você tem código de barras!
Até aquele momento você era responsável por suas atitudes. Agora você já não tem mais controle sobre nada. Apenas remédios controlados. Pílulas de estabilidade. Drogas de justificativa. Comprimidos de "a culpa não é minha, é a doença".
Ironicamente, tudo isso é verdade. Mas também é verdade que descobrir uma doença, quase sempre te torna ainda mais doente. Um diagnóstico pode até abrir uma fresta na janela, mas fecha todas as portas e te deixa na escuridão total.
Você sofre por conseqüência da doença, mas menos pelos sintomas e mais por “possuir” a doença que, afinal, basta entrar em qualquer consultório de psiquiatria para adquiri-la gratuitamente e sem taxas anuais.

Perder o livre-arbítrio para um transtorno afetivo é perder a felicidade procurando por ela.
Quase sempre em vão.

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