Abrem-se as cortinas!
Não, não é bem isso.
Cortinas já abertas, com alunos do sexto semestre de artes
cênicas passeando pelo palco e prometendo uma surpreendente encenação de Valsa
nº 6, de Nelson Rodrigues.
Durante a apresentação, fiquei me perguntando qual é o papel
do professor na vida de um aspirante a artista. O intuito de ser um ator
diplomado, é buscar o profissionalismo em sua profissão, mais do que
simplesmente a técnica e a desenvoltura.
Mas o que realmente ensina o professor de artes?
O espetáculo seguiu com uma bagunça de informações,
figurinos e falas – típicos de uma encenação pós-dramática - dando a impressão
de ter se perdido do texto original. Seis nádegas masculinas viradas para o público,
um semi-afogamento com champagne e uma fala – incluída de forma infeliz –
desvalorizando o profissional do teatro, foram realmente surpreendentes – mas
não da forma que um empolgado estudante espera surpreender.
A gota d’água, foi quando uma aluna entrou em cena
completamente nua, aos trinta e cinco minutos de espetáculo. Não sei o que se
seguiu, pois saí da sala com meu orgulho de atriz completamente ferido.
Afinal, o que é realmente ser ator?
Entre os iniciantes, há a precipitada visão de “poder”: ter
a mente aberta, um comportamento “prafrentex”, poder e fazer tudo e,
principalmente, ser desprovido de pudores – e, acrescento, desprovido de
valores.
Nós sabemos que Nelson Rodrigues trata das feridas da
sociedade e suas peças são recheadas de sexo e nudez. Mas é realmente
necessário expor uma aluna (repito, ALUNA) aos olhos de dezenas de pessoas
desconhecidas?
Diante desta cena, penso nos motivos de, anos atrás, as
atrizes serem vistas como prostitutas.
Corpos nus em cena, principalmente em espetaculos amadores,
passam bem mais perto da pornografia que da arte. E é isso que nós, artistas,
queremos?
Volto a me perguntar sobre o papel dos professores. Será
mesmo certo incitar este tipo de comportamento naqueles que estão se iniciando
nas artes? Colocando em suas cabeças que o ator é louco, através de falas em
suas montagens? Depreciando o próprio trabalho em cena, através de gestos,
falas e comportamento?
É indiscutível que o objetivo de um bacharelando é se tornar
um profissional. E um profissional valoriza seu trabalho, sabe dizer não aos
seus superiores e respeita seus clientes.
Os clientes de um ator são o público. O público não se sente
respeitado quando seis bundas peludas se viram para ele, que reservou seu tempo
e dinheiro para prestigiar o que deveria ser arte.
Este comportamento provavelmente contribui para a
desvalorização do artista brasileiro. Como queremos ser respeitados, se não
conseguimos respeitar nosso próprio público?
Com certeza existirão aqueles “artistas precipitados” que se
defenderão como incompreendidos. Mas o profissional do teatro não trabalha para
si. Logo, existe realmente a necessidade de produzir espetáculos que são
praticamente uma cartilha de astrologia, tantos são os signos que o constituem?
Não deveríamos pensar mais no nosso publico, quase sempre leigo no assunto?
Simplificar é menos arte?
Deveriam limitar o abstrato às artes plásticas. Deixem o
teatro fora disso e representem aquilo que o texto pede, não aquilo que faz o
publico se sentir sob efeito de alguma substância tóxica ilícita.
E ainda, contrariando a maioria dos estudantes e amadores...
é isso que o público quer pagar para ver?
Juro que não entendo o motivo de tantos atores preferirem viver em
dificuldades financeiras a abrir mão de seu teatro incompreensivel.
Comportamento que também coloca uma
virgula em sua atitude “sou artista, sou mente aberta”.
O espetáculo de hoje foi surpreendente de várias formas. Foi
perceptivel também a insegurança dos alunos para lidar com as adversidades em
cena, o que me faz pensar que em menos de um ano, teremos por aí semi-profissionais
que exercem sua profissão até certo ponto, por causa de algum diretor que lhes
ensinou a chafurdar numa piscina de lama, mas não a falar num microfone.
Além disso, foi triste ver que o público de três peças diferentes
não passava de vinte pessoas. Há alguns anos, aquele teatro estaria repleto de
gente, de familiares a usuários do metro abordados por um aluno a caminho de
sua apresentação.
Estarão os alunos de hoje mais ocupados em representar o seu
papel de “artista”, com seus cachecóis em pleno verão, do que em divulgar o seu
trabalho?
O que falta na docência ao formar seus futuros profissionais
atores? Talvez uma pitada extra de ética na grade curricular daqueles que
querem transformar o mundo, faça diferença.
Enquanto isso, o mundo segue com seus “artistas
incompreendidos” e seu público eternamente perguntando: é de graça?
Menina!!! Por onde você anda?!? Não sei mais qual o seu canal e vejo que não tem postado aqui no blog. Dê notícias!!!
ResponderExcluir