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terça-feira, 26 de junho de 2012

Ser ator


Abrem-se as cortinas!
Não, não é bem isso.
Cortinas já abertas, com alunos do sexto semestre de artes cênicas passeando pelo palco e prometendo uma surpreendente encenação de Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues.
Durante a apresentação, fiquei me perguntando qual é o papel do professor na vida de um aspirante a artista. O intuito de ser um ator diplomado, é buscar o profissionalismo em sua profissão, mais do que simplesmente a técnica e a desenvoltura.  Mas o que realmente ensina o professor de artes?
O espetáculo seguiu com uma bagunça de informações, figurinos e falas – típicos de uma encenação pós-dramática - dando a impressão de ter se perdido do texto original. Seis nádegas masculinas viradas para o público, um semi-afogamento com champagne e uma fala – incluída de forma infeliz – desvalorizando o profissional do teatro, foram realmente surpreendentes – mas não da forma que um empolgado estudante espera surpreender.
A gota d’água, foi quando uma aluna entrou em cena completamente nua, aos trinta e cinco minutos de espetáculo. Não sei o que se seguiu, pois saí da sala com meu orgulho de atriz completamente ferido.

Afinal, o que é realmente ser ator?
Entre os iniciantes, há a precipitada visão de “poder”: ter a mente aberta, um comportamento “prafrentex”, poder e fazer tudo e, principalmente, ser desprovido de pudores – e, acrescento, desprovido de valores.

Nós sabemos que Nelson Rodrigues trata das feridas da sociedade e suas peças são recheadas de sexo e nudez. Mas é realmente necessário expor uma aluna (repito, ALUNA) aos olhos de dezenas de pessoas desconhecidas?
Diante desta cena, penso nos motivos de, anos atrás, as atrizes serem vistas como prostitutas.
Corpos nus em cena, principalmente em espetaculos amadores, passam bem mais perto da pornografia que da arte. E é isso que nós, artistas, queremos?

Volto a me perguntar sobre o papel dos professores. Será mesmo certo incitar este tipo de comportamento naqueles que estão se iniciando nas artes? Colocando em suas cabeças que o ator é louco, através de falas em suas montagens? Depreciando o próprio trabalho em cena, através de gestos, falas e comportamento?

É indiscutível que o objetivo de um bacharelando é se tornar um profissional. E um profissional valoriza seu trabalho, sabe dizer não aos seus superiores e respeita seus clientes.
Os clientes de um ator são o público. O público não se sente respeitado quando seis bundas peludas se viram para ele, que reservou seu tempo e dinheiro para prestigiar o que deveria ser arte.
Este comportamento provavelmente contribui para a desvalorização do artista brasileiro. Como queremos ser respeitados, se não conseguimos respeitar nosso próprio público?

Com certeza existirão aqueles “artistas precipitados” que se defenderão como incompreendidos. Mas o profissional do teatro não trabalha para si. Logo, existe realmente a necessidade de produzir espetáculos que são praticamente uma cartilha de astrologia, tantos são os signos que o constituem? Não deveríamos pensar mais no nosso publico, quase sempre leigo no assunto?
Simplificar é menos arte?
Deveriam limitar o abstrato às artes plásticas. Deixem o teatro fora disso e representem aquilo que o texto pede, não aquilo que faz o publico se sentir sob efeito de alguma substância tóxica ilícita.

E ainda, contrariando a maioria dos estudantes e amadores... é isso que o público quer pagar para ver?
Juro que não entendo o motivo de  tantos atores preferirem viver em dificuldades financeiras a abrir mão de seu teatro incompreensivel. Comportamento que  também coloca uma virgula em sua atitude “sou artista, sou mente aberta”.

O espetáculo de hoje foi surpreendente de várias formas. Foi perceptivel também a insegurança dos alunos para lidar com as adversidades em cena, o que me faz pensar que em menos de um ano, teremos por aí semi-profissionais que exercem sua profissão até certo ponto, por causa de algum diretor que lhes ensinou a chafurdar numa piscina de lama, mas não a falar num microfone.

Além disso, foi triste ver que o público de três peças diferentes não passava de vinte pessoas. Há alguns anos, aquele teatro estaria repleto de gente, de familiares a usuários do metro abordados por um aluno a caminho de sua apresentação.
Estarão os alunos de hoje mais ocupados em representar o seu papel de “artista”, com seus cachecóis em pleno verão, do que em divulgar o seu trabalho?

O que falta na docência ao formar seus futuros profissionais atores? Talvez uma pitada extra de ética na grade curricular daqueles que querem transformar o mundo, faça diferença.

Enquanto isso, o mundo segue com seus “artistas incompreendidos” e seu público eternamente perguntando: é de graça?

Um comentário:

  1. Menina!!! Por onde você anda?!? Não sei mais qual o seu canal e vejo que não tem postado aqui no blog. Dê notícias!!!

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